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A caminho da prisão Carlos Cruz escreve carta para “amigos… e aos outros”

A poucos dias de regressar à cadeia, para cumprir a sentença do processo Casa Pia, Carlos Cruz recorreu ao Facebook para dirigir uma última mensagem aos “amigos” e aos “outros”.

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Depois de na semana passada o acórdão do Tribunal Constitucional ter transitado em julgado, pondo fim ao processo Casa Pia, Carlos Cruz terá de cumprir a pena de seis anos de prisão a que foi condenado. De referir que, dessa pena, o antigo apresentador de televisão já cumpriu 16 meses de prisão preventiva.

Também os outros arguidos do processo – Jorge Ritto, Ferreira Diniz e Manuel Abrantes – terão de acatar as ordens do tribunal e ficar detidos.

Ricardo Sá Fernandes, advogado de Carlos Cruz já afirmou que o seu cliente “mantém a vontade de entregar-se voluntariamente” e o semanário Sol adianta que isso deverá acontecer depois da Páscoa.

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Leia na íntegra:

CARTA AOS MEUS AMIGOS… E AOS OUTROS

Começo com uma frase de Gandhi que me foi recordada há dias por um grande amigo meu: “A prisão não são as grades e a liberdade não é a rua; existem homens presos na rua e livres na prisão; é uma questão de consciência”.

Como eu sei que é verdade! E por isso afirmo com veemência que jamais deixarei de ser um homem livre: na rua ou atrás das grades! Porque é um problema de consciência e a minha está, como sempre esteve. E estará tranquila.

Aliás, atrevo-me a adaptar a frase de Gandhi nela concluindo: existem homens inocentes atrás das grades e homens culpados que andam na rua. Mas aí não é apenas um problema de consciência. É um problema de Justiça ou falta dela.

Cresci até aos meus 71 anos completados hoje num meio de amor pela Liberdade pela Igualdade entre todos os homens de qualquer raça, cor, credo ou sexo. Aprendi os valores da Solidariedade e pus no altar supremo das minhas crenças a sacralidade da Justiça que é o ponto de encontro daqueles valores.

Assim formei-me com companheiros partilhantes dos mesmos valores e na minha galeria de heróis e meus leaders do pensamento revejo Gandhi (pela capacidade de sofrer com um sorriso todas as injustiças e sem uma única palavra ou acção de violência); Martin Luther King pela sua capacidade de sonhar a igualdade e liberdade de todos sacrificando a vida por essa utopia que a sua luta transformou em realidade; Papa João XXIII pela visão ecuménica da Igreja e do mundo, infelizmente não continuada; Jesus Cristo como exemplo da injustiça dos homens à qual não se vergou preferindo a morte à confissão de qualquer crime que não cometeu; Galileu Galilei que enfrentou a Inquisição que o acusou de heresia mas que acabou por ver reconhecida a força da sua razão e cuja frase “E no entanto ela move-se” eu recordo muitas vezes; Nelson Mandela pela suprema lição de resistência, pela capacidade de manter a lucidez pela dignidade de saber perdoar para e levar os seus compatriotas a perdoarem um passado para construírem o futuro de uma Nação.

Mais vultos povoam a minha galeria e que me ensinaram a ser Homem e cidadão. Seres superiores cujas pegadas são os meus exemplos mesmo quando não me sinto à altura deles. Aqui ficam estes que são para mim talvez os mais significativos.

Amigos… E outros:

Quando a razão da força se impõe à força da razão as consequências são sempre injustas; quando a manipulação através da mentira se impõe à razão pura da Verdade há uma total inversão de valores com consequências imprevisíveis mas sempre perversas.

Mas também é verdade que “o tempo descobre sempre a Verdade” como disse Bernini. Mas acrescentou: “nem sempre a tempo”. Acrescento eu: “é sempre tempo seja quando for”. Porque a Verdade é imutável. Nada a pode alterar e por isso mesmo é Verdade. Pode ser ferida, distorcida, atraiçoada durante muito tempo. Mas não para sempre.

Uma palavra final:

Não sou mártir nem herói. Sou apenas vítima. Até à chegada da Verdade. Não tenho ódios, não quero vingança. Só quero a Verdade e Justiça.

Aos meus amigos aqui fica o eterno agradecimento pelo que têm feito, pelo apoio que me têm dado; aos indecisos sugiro que se informem (e já dispõem de muitas fontes para o fazer). E fiquem tranquilos: dói ser injustiçado e condenado por crimes não cometidos. Mas suporto a dor na companhia da minha consciência limpa e da minha liberdade de pensamento. O sofrimento é pela minha família a que a minha filha Marta tão bem chamou no seu livro “As Outras Vítimas”. Mas felizmente que também, na família, encontro uma força inabalável que lhes advém da Verdade. Como força encontro nos amigos. Reais ou virtuais mas que nunca me abandonaram.

24 de Março 2013

PS- para recolha de informação e pensar pela própria cabeça sugiro lerem com atenção o meu site (www.processocarloscruz.com), o meu livro “Inocente para além de qualquer dúvida” que ainda pode encomendar à FNAC ou à editora Vogais; o blog “crónicasdoprocesso.blogspot.pt” ou então o próprio processo que é público embora não tenha as transcrições do áudio das audiências (que pode ver no meu site).

Aconselho ainda ver o filme “Presumé Coupable” (Presumível Culpado), sobre o Caso Outreau que podem encontrar na Net com alguma paciência e o filme “A Caça” que está ainda exibição nos cinemas do El Corte Inglês e que é lançado pela Amazon amanhã dia 25 com legendas em inglês; o filme é Dinamarquês e tem o título original “Jagten” e está nas buscas do Google.

PS-2- Para quem não acredita em erros judiciários também aconselho o file “O Furacão” com Denzel Washigton ou “True Crime” com Clint Eastwood. Ou ver a notícia aqui postada por minha filha da senhora americana que esteve no corredor da morte durante 22 anos à espera de ser executada sendo agora absolvida porque se descobriu que o detective da polícia que investigou o caso mentiu em tribunal. Era acusada de ter morto o filho.

Finalmente informem-se sobre o “The Innocence Project “ (www.innocenceproject.org) e vejam quantos condenados (alguns depois de executados) foram inocentados.

PS-3 – As minhas páginas no Facebook mantêm-se abertas. Alguém de minha inteira confiança me irá dando notícias do seu comportamento e tem a minha autorização para aceitar ou rejeitar amigos porque estará em contacto comigo. Naturalmente não poderei responder.

 

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